Edição 01 – Novembro de 2008

Suaçubóia (Corallus hortulanus)

suaçubóia é uma serpente do mesmo grupo das famosas sucuri e jibóia: a família Boidae. Seu nome comum tem origem indígena: suaçu (veado) + bóia (cobra) = cobra-de-veado ou cobra-veadeira.

Indivíduo adulto de suaçubóia (Corallus hortulanus)

Amplamente distribuída na América do Sul, habita principalmente florestas, podendo também ser encontrada em áreas alteradas pela ação do homem (áreas antropizadas). No Brasil, a suaçubóia ocorre na Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Possui corpo esguio e atinge em média 1,5 metro de comprimento, ao contrário de suas “primas” jibóia e sucuri, que alcançam maiores tamanhos e são mais robustas.

Habitos e alimentação

De hábito arborícola (embora eventualmente desça ao chão) e atividade noturna, a suaçubóia tem alimentação variada, que consiste em lagartos, rãs, pererecas, pequenos mamíferos (roedores e cuícas), pequenas aves, e até morcegos. A suaçubóia parece utilizar duas estratégias para caçar suas presas: a busca ativa e a espreita. Na busca ativa, a serpente percorre o ambiente à procura de alimento, enquanto que na espreita ela permanece imóvele camuflada, à espera de uma presa em potencial que cruze o seu caminho.

Florestas compõem o principal hábitat da suaçubóia.

Características gerais

A suaçubóia possui estruturas especiais ao longo das escamas da boca, chamadas fossetas labiais, que auxiliam na busca por alimento. As fossetas labiais são órgãos termossensitivos, capazes de perceber a presença de fontes de calor próximas. Desta forma, mesmo estando sob a escuridão total, a suaçubóia percebe um rato que esteja por perto, devido ao calor do corpo do pequeno roedor, que é captado pelas fossetas.

A suaçubóia é uma serpente não-peçonhenta. Ao capturar uma presa, enrodilha-se em torno dela (constrição) e aperta até causar sua morte por asfixia.

Ao longo das escamas da boca, a suaçubóia possui fossetas labiais, órgãos termossensitivos que auxiliam na busca por alimento.

Jardineira

Uma característica marcante da suaçubóia está na enorme variedade natural de padrões de coloração presente na espécie, ao qual dá-se o nome de polimorfismo. Existem indivíduos de cores diversas como vermelho, amarelo e verde, além de alguns “malhados”, com coloração cinza e preto, por exemplo. Essa variedade de cores acabou influenciando no nome científico desta serpente. Segundo Linnaeus (também conhecido como Lineu ou Linné) em 1758, a cabeça da suaçubóia estudada por ele possuía manchas que lembravam um jardim! Daí a origem do epíteto específico hortulana (posteriormente modificado para hortulanus), que significa “de jardim” ou “jardineira”. 

Existem indivíduos de suaçubóia que apresentam as mais variadas cores.

Reprodução

A gestação da suaçubóia ocorre do final do verão ao início do inverno. Vivípara, esta serpente dá à luz de 3 a 24 filhotes no final da estação chuvosa). Uma adaptação evolutiva interessante desta espécie está no fato de os ovários da fêmea ficarem dispostos de forma assimétrica no interior de seu corpo: o ovário direito tem posição anterior em relação ao ovário esquerdo. Tal característica minimiza a distenção do corpo durante a gravidez, permitindo que a serpente continue se enrodilhando e se deslocando por galhos e árvores sem problemas.

Mudanças de nome

Os nomes científicos de todos os animais conhecidos devem seguir as normas estipuladas pelo Código Internacional de Nomenclatura Zoológica. No caso da suaçubóia, muitos nomes científicos já lhe foram aplicados ao longo de mais de dois séculos, causando grande confusão entre os pesquisadores. Durante aproximadamente 60 anos, a espécie foi chamada de Corallus enydris, até que em 1996, três especialistas realizaram um profundo levantamento histórico da nomenclatura científica da suaçubóia, e concluíram que seu nome científico correto é Corallus hortulanus.

A suaçubóia em Minas Gerais

Na primeira edição do “Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna de Minas Gerais”, em 1998, a suaçubóia foi incluída no critério de ameaça definido como vulnerável. Até aquela época, em Minas Gerais só havia registros científicos desta serpente no Parque Estadual do Rio Doce. Após a realização de mais estudos, chegou-se à conclusão de que a espécie possui uma distribuição mais ampla no estado, levando-a a ser considerada como não-ameaçada na “Revisão das Listas das Espécies da Flora e da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado de Minas Gerais”, publicada em 2007. Contudo, se o ritmo de devastação dos ambientes naturais não for reduzido, a suaçubóia poderá mais uma vez figurar entre as espécies ameaçadas a nível estadual.

A suaçubóia em Viçosa

Pouco se sabe sobre a suaçubóia na região de Viçosa. Há registros confirmados de sua presença apenas nos municípios de Guidoval, Viçosa e Visconde do Rio Branco, com base em exemplares depositados nas coleções científicas do Instituto Butantan (São Paulo) e do Museu de Zoologia João Moojen, da Universidade Federal de Viçosa. É possível que esta serpente seja rara na região, estando restrita ao interior dos poucos fragmentos florestais ainda existentes. A realização de mais estudos poderá trazer no futuro informações mais detalhadas sobre a presença desta bela serpente em nossa região.

Você sabia?

Há registros de fósseis de serpentes primitivas com pernas bem desenvolvidas. Com o passar do tempo evolutivo, os membros posteriores desapareceram. Embora nenhuma serpente atual possua patas, as espécies da família Boidae apresentam vestígios dos membros posteriores na forma de um par de esporões localizados próximos à cloaca. Os machos parecem utilizar os esporões durante o ritual de corte, para estimular a fêmea

Esporão de uma jibóia-arco-íris (Epicrates cenchria), uma “prima” da suaçubóia, também pertencente à família Boidae.

Referências Bibliográficas

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