Edição 08 – Junho de 2009

Cuíca-graciosa (Gracilinanus agilis)

Os marsupiais são mamíferos popularmente conhecidos pela presença de uma bolsa abdominal, o marsúpio, nas fêmeas. Esta bolsa é essencial para estes animais, uma vez que eles nascem bastante prematuros, sendo que grande parte do desenvolvimento do filhote ocorre pós-parto, dentro do marsúpio.

Quando falamos em marsupiais logo nos lembramos de espécies australianas, como cangurus e coalas. No entanto, existe uma grande diversidade de marsupiais americanos, representada principalmente pelos gambás e cuícas.

No Brasil, todos os marsupiais fazem parte da ordem Didelphimorphia, endêmica das Américas. Das 92 espécies de gambás e cuícas existentes, 55 ocorrem no território nacional.

Alguns marsupiais brasileiros. A) Gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris). B) Cuíca-três-listras (Monodelphis americana). C) Cuíca-lanosa (Caluromys philander). D) Cuíca-cauda-de-rato (Metachirus nudicaudatus)

Características Gerais

cuíca-graciosa (Gracilinanus agilis), também chamada popularmente por catita ou guaiquica, é conhecida por sua beleza e carisma. É um dos menores marsupiais do mundo, com comprimento total entre 20 e 25 centímetros, dos quais mais da metade é representada pela cauda. O peso varia entre 15 e 30 gramas nos adultos, mas alguns indivíduos podem chegar a 40g. Possui pêlos curtos e macios, com uma coloração pardacenta. A pelagem dorsal varia do cinza-marrom ao vermelho-marrom, enquanto a coloração do ventre varia do laranja pálido ao creme. Os olhos são esféricos, negros e proeminentes, apresentando uma faixa de pêlos negros ao seu redor. As patas anteriores e posteriores são pequenas e esbranquiçadas. As orelhas são desnudas e se movimentam bastante.

Exemplar de cuíca-graciosa, destacando as manchas negras ao redor dos olhos.

Hábitos e alimentação

Como a grande maioria dos marsupiais, a cuíca-graciosa tem hábitos arborícolas. Várias características do seu corpo são adaptações à locomoção nas árvores. Além da cauda preênsil que funciona como um quinto membro, as patas posteriores apresentam um polegar opositor, para agarrar nos galhos das árvores. É um animal bastante ágil, que escala árvores com extrema rapidez.

Gracilinanus agilis geralmente está associada a formações florestais típicas do bioma Cerrado, bem como matas de galeria e florestas de encosta, mas também é encontrado em cerrado sensu stricto. Na Mata Atlântica é eventualmente encontrado em florestas mais secas, ou em estágios iniciais de sucessão.

Cuíca-graciosa sobre as árvores.

A cuíca-graciosa é um animal solitário e noturno que vive em tocas ou ninhos feitos em buracos nas árvores ou entre as rochas. Sua dieta é onívora, sendo bastante generalista em relação a sua alimentação, mas preferindo pequenos insetos e frutos. Quando ameaçada, geralmente foge, aproveitando seu pequeno tamanho e sua coloração para se camuflar na mata. Caso não possa fugir, a cuíca-graciosa infla os pulmões e eriça os pêlos, com o intuito de parecer maior. Depois abre a boca e vocaliza, numa tentativa de afastar o perigo. Outra estratégia de defesa é a tanatose, na qual o animal se finge de morto, permanecendo imóvel até que o perigo cesse.

Uma cuíca-graciosa em posição de defesa, com a boca aberta e vocalizando.

Reprodução

O início do período reprodutivo de Gracilinanus agilis está intimamente ligado à estação de maior pluviosidade, quando há maior abundância de alimentos. As fêmeas podem entrar no cio até duas vezes ao ano, sendo que o primeiro cio acontece aproximadamente após um ano de vida. O período de gestação é bastante pequeno, não excedendo 15 dias. Ao nascerem, os filhotes são guiados pela mãe até os mamilos, onde ficam aderidos até completarem seu desenvolvimento. Após este período, ficam agarrados no dorso da mãe até se tornarem totalmente independentes. Em média sete a oito cuiquinhas nascem após cada parto, mas as ninhadas podem chegar a até treze filhotes.

A cuíca-graciosa em Minas Gerais

De acordo com a Revisão das Listas das Espécies da Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção do Estado de Minas Gerais, a cuíca-graciosa está enquadrada na categoria não ameaçada. A mesma classificação é dada pelo Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, e pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

Um dos principais fatores que contribuem para a inclusão de Gracilinanus agilis nesta categoria é sua ampla distribuição geográfica. Em Minas Gerias, a espécie ocorre em quase todo o estado, exceto no extremo sudeste. No entanto, a cuíca-graciosa é bastante susceptível a variações no seu habitat. Com o ritmo de devastação atual dos ambientes naturais, a espécie pode acabar se tornando ameaçada em nível estadual no futuro.

A cuíca-graciosa em Viçosa

No município de Viçosa, a cuíca-graciosa é encontrada na Mata da Biologia (fragmento florestal inserido no campus da Universidade Federal de Viçosa) e na Estação de Pesquisa, Treinamento e Educação Ambiental Mata do Paraíso (EPTEA-MP), o maior fragmento de Mata Atlântica do município, localizado a aproximadamente 7 Km do centro da cidade. Provavelmente a espécie ocorre também em outras matas da região que ainda não foram estudadas.

Você Sabia?

Os marsupiais que ocorrem no Brasil não apresentam um marsúpio verdadeiro. Gambás (espécies do gênero Didelphis) e algumas cuícas maiores, como a cuíca-de-quatro-olhos (Philander frenatus) possuem dobras abdominais, enquanto as espécies menores, como a cuíca-graciosa, não têm nenhum tipo de proteção para os mamilos. Para proteger os filhotes recém-nascidos e aderidos aos mamilos, as fêmeas dessas espécies menores não saem do ninho por um tempo, até que os filhotes estejam menos frágeis. Durante este período, elas diminuem seu metabolismo e vivem de reservas de gordura corporal.

Os filhotes da cuíca-graciosa ficam aderidos aos mamilos da mãe mesmo sem a presença de um marsúpio

Referências Bibliográficas

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Rodolfo German Antonelli Vidal Stumpp – Biólogo

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