Edição 11 – Setembro de 2009

Teiú (Tupinambis merianae)

teiú (Tupinambis merianae), também conhecido popularmente como tiútejú ou tegu é um réptil do grupo Squamata (que além dos lagartos, inclui os anfisbênios e as serpentes). Os teiús são membros da família Teiidae, que se distribui ao longo das Américas, com mais de 100 espécies descritas (30 delas no Brasil).

Teiú (Tupinambis merianae).

O gênero Tupinambis ocorre em quase toda a América do Sul e inclui alguns dos maiores lagartos americanos. Hoje são conhecidas sete espécies: Tupinambis duseniT. longilineusT. merianaeT. palustrisT. quadrilineatusT. rufescens T. teguixin.

Algumas espécies de teiús encontradas no território brasileiro. A) Tupinambis duseni. B) Tupinambis quadrilineatus. C) Tupinambis longilineus.

Tupinambis merianae possui a maior distribuição dentre as espécies do gênero, sendo encontrada do sul da Amazônia ao norte da Patagônia, a leste dos Andes. No Brasil, está presente nos biomas Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia, sendo que também foi introduzido em algumas ilhas

Essa espécie de teiú possui corpo cilíndrico e robusto, podendo atingir até 1,4 metros de comprimento e peso de 5 Kg. A cabeça é comprida e pontiaguda, com mandíbula forte e a cauda é longa e musculosa. Possui coloração negra com faixas amareladas na região dorsal do corpo, na cabeça e membros. Já o ventre é branco com pequenas manchas negras mais claras.

Tupinambus merianae em Sooretama, ES.

Hábitos e alimentação

Tupinambis merianae ocupa principalmente áreas abertas bordas de mata. No interior de florestas, sua presença parece estar relacionada às áreas de clareiras. É terrestre e raramente sobe em árvores após atingir a fase adulta. O teiú também costuma frequentar áreas antrópicas, podendo invadir galinheiros para comer ovos e pintinhos. Tem atividade diurna e é heliotérmico (expõe-se ao sol para elevar a temperatura corporal). Procura seu alimento ativamente no chão, com o auxílio da língua bífida, que capta partículas de cheiro do ar.

Quando se sente ameaçado, pode ficar imóvel e tentar se camuflar no ambiente ou fugir rapidamente. Mas quando se sente encurralado, desfere fortes mordidas e chicotadas com a cauda. Se agarrado pela cauda, o teiú, assim como outros lagartos (mas nem todos), pode se desfazer dela (e escapar com vida), num processo conhecido como autotomia. Dentro de algumas semanas, uma nova cauda substitui a antiga

Tupinambis merianae é onívoro, ou seja, come praticamente de tudo. Na natureza, se alimenta de frutas, ovos, larvas, vermes, insetos e até carniça! A ampla dieta e a adaptabilidade a ambientes pouco preservados indicam que Tupinambis merianae é uma espécie oportunista, o que ajuda a explicar sua ampla distribuição.

O teiú pode atuar como dispersor de sementes, já que se desloca por grandes áreas à procura de alimento durante o forrageamento, possibilitando a distribuição das sementes em locais propícios para germinação e estabelecimento. Aves de rapina, felinos selvagens e serpentes são alguns dos predadores dos teiús na natureza. Em cativeiro, esta espécie pode viver por mais de 15 anos.

A) Teíu à procura de alimento. B) Quando ameaçado, o teíu pode desferir mordidas.

Reprodução

O teiú é ovíparo e a reprodução aparentemente ocorre ao final da estação seca. O tamanho da ninhada varia de 30 a 36 ovos, que eclodem após 60 a 90 dias de incubação.

Os filhotes são esverdeados, muitas vezes confundidos com o adulto de outra espécie de Teiidae, o calango Ameiva ameiva.

O filhote do teiú, Tupinambis merianae (A) pode ser confundido com o calango Ameiva ameiva (B).

Exploração

Como têm grande porte, as espécies de Tupinambis foram e ainda são caçadas tradicionalmente por alguns povos indígenas para subsistência. Mas agora, são explorados em grande número para uso das peles na confecção de acessórios em couro exótico, especialmente botas e bolsas.

Durante a década de 1980 uma média de 1.900.000 peles foram negociadas anualmente, principalmente para os Estados Unidos, Canadá, México, Japão e alguns países europeus. Por isso, todas as espécies de Tupinambis estão incluídas no Apêndice II da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestre), indicando que, embora ainda não se encontrem em risco de extinção, podem vir a ser ameaçadas caso seu comércio não seja efetivamente controlado.

Bolsas confeccionadas a partir de couro de teíu.

O teiú em Minas Gerais e em Viçosa

Em Minas Gerais, T. merianae possui ampla distribuição, sendo encontrado em todos os biomas do estado (Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica). A espécie não se encontra ameaçada de extinção em nível nacional ou estadual. Outras duas espécies de teiús ocorrem em Minas Gerais, mas em áreas de Cerrado: T. duseni T. quadrilineatus.

Em Viçosa, T. merianae é uma espécie comum, que além de ocupar as áreas de mata, também pode ser encontrada em pastagens, quintais e até terrenos baldios próximos aos ambientes florestados. Praticamente não existem estudos na região com essa espécie.

Você Sabia?

Tupinambis merianae é uma das espécies-problema do arquipélago de Fernando de Noronha, e mais um exemplo de como a introdução de espécies exóticas em ilhas pode acarretar em grandes transtornos e desestruturar o frágil equilíbrio ecológico desse tipo de ambiente.

Na década de 1960, foi introduzido um casal dessa espécie no arquipélago com o objetivo de controlar as populações de sapos e ratos, introduzidos em anos anteriores. Como o teiú tem hábitos diurnos e suas supostas presas são noturnas, o controle não foi bem sucedido e o lagarto encontrou um ambiente adequado ao seu desenvolvimento e reprodução. Com recurso alimentar em abundância e ausência de predadores, a população de T. merianae no arquipélago continua crescendo, causando um grande impacto nas populações das tartarugas e aves marinhas, das quais o lagarto se alimenta dos ovos e filhotes.

O teiú andando pelas praias de Fernando de Noronha.

Referências Bibliográficas

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Jussara Santos Dayrell – Bióloga

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