Edição 17 – Março de 2010
Perereca-de-moldura (Dendropsophus elegans)
As pererecas são anfíbios que possuem como característica bem evidente a presença de discos adesivos nas extremidades dos dedos. Graças a esta estrutura elas podem escalar árvores, pedras e até paredes! O gênero Dendropsophus contém mais de 90 espécies, as quais são distribuídas do México ao norte da Argentina e Uruguai. Em nosso país já foram registradas pelo menos 60 espécies. Uma delas é a perereca-de-moldura, Dendropsophus elegans.
O nome Dendropsophus vem do grego dendron = árvore + psophos = som, barulho. Ou seja, indica pererecas que vocalizam, “fazem barulho”, em árvores e arbustos. Já o epíteto elegans vem do latim, e significa “elegante”, lembrando a beleza do padrão de coloração deste animal.
Dendropsophus elegans, foi descrita em 1824 pelo príncipe Maximilian de Wied-Neuwied (uma antiga região da Alemanha), que realizou diversas expedições pelo Brasil no séc. XIX. É uma espécie de pequeno porte (atinge menos de 40 mm) e corpo robusto. Seu nome popular (perereca-de-moldura) se deve à cor do dorso, formada por um retângulo marrom-claro bem definido, completamente emoldurado por uma faixa branca ou branco-amarelada, que também recobre as tíbias. Sua coloração se destaca durante o dia, com a moldura apresentando um tom branco muito vivo.
Esta pequena perereca é típica da Mata Atlântica, apresentando extensa distribuição na faixa litorânea, do estado da Bahia a São Paulo, sendo registrada também em Minas Gerais.
Hábitos e alimentação
Dendropsophus elegans é habitante de áreas abertas, ocorrendo desde o nível do mar até próximo de 2000 m de altitude. Geralmente é encontrada vocalizando a poucos centímetros do espelho d’água, nas margens de poças e lagoas, e empoleirada na vegetação herbácea ou arbórea. Pode-se vê-la também no interior de bromélias, que por acumularem água entre suas folhas, criam um ambiente propício para anfíbios.
A perereca-de-moldura não costuma habitar córregos ou ambientes de água corrente, mas coloniza rapidamente açudes e corpos d’água próximos a áreas alteradas pela ação humana, mostrando oportunismo e grande adaptabilidade. Sua dieta compõe-se basicamente de artrópodes, na maioria insetos, principal fonte de alimento da maioria dos anuros (sapos, rãs e pererecas). Por outro lado, devido a seu pequeno tamanho, Dendropsophus elegans acaba se tornando presa de diversos animais, até mesmo aranhas!
Reprodução
A perereca-de-moldura apresenta reprodução prolongada, isto é, ao longo de vários meses do ano. Os machos são capazes de emitir um rico repertório sonoro, com cinco tipos de vocalizações distintas: canto de anúncio, territorial, de briga, de soltura e de corte! Seu território é inicialmente defendido por meio de vocalizações, podendo depois dar lugar a combates físicos.
Quando uma fêmea é atraída pelo canto de corte de um macho, ele a abraça (amplexo) na região axilar, e ambos liberam seus gametas diretamente na água. A desova é realizada em forma de uma massa gelatinosa, e pode conter de 240 a 360 ovos que adquirem uma coloração creme-claro após a fecundação. Dentro de algumas semanas, ocorre o desenvolvimento dos embriões e a eclosão dos girinos, que passam a se desenvolver no corpo d’água até que completem a metamorfose.
A perereca-de-moldura em Minas Gerais e em Viçosa
A perereca-de-moldura não está na lista de animais ameaçados de extinção, devido principalmente a sua ampla distribuição. Em Minas Gerais, é encontrada frequentemente nas áreas de Mata Atlântica, na região leste do estado. No município de Viçosa, é observada facilmente em lagoas, brejos e represas. Já foi estudada por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa que analisaram seu comportamento e aspectos ligados à sua reprodução.
Você Sabia?
O principal modo de comunicação entre os anuros são sinais acústicos conhecidos como vocalizações, normalmente restritos aos machos adultos. Os sons são produzidos pela passagem de ar pelas cordas vocais e amplificados pelo saco vocal, uma expansão na região gular (“garganta”). Cada espécie apresenta sua própria vocalização; algumas delas inclusive podem apresentar coaxos específicos para determinados comportamentos, como defesa de território e atração de fêmeas. A representação gráfica de uma vocalização é chamada sonograma.
Durante o trabalho de campo os pesquisadores que estudam anfíbios conseguem reconhecer muitas espécies simplesmente ouvindo suas vocalizações!
Referências Bibliográficas
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Marina Paula da Cunha Oliveira – Bióloga